Uma família como todas as outras… ou não…

Há alguns anos, nos Estados Unidos, um rapaz oriundo de uma cidade com 3645 habitantes obteve a classificação máxima num exame de acesso à universidade. Submeteram-se a este exame 400 000 alunos e apenas 58 obtiveram a classificação máxima. Um deles era Christopher Williams. Compreensivelmente, a família viu-se de repente rodeada de jornalistas que queriam saber quais os cursos de preparação para o exame que ele frequentara. O espanto de todos foi grande quando os pais disseram que ele não frequentara qualquer curso de preparação. Mas esta era apenas uma meia verdade. Ao longo de toda a infância e adolescência, os pais liam-lhe, e ao irmão, durante trinta minutos, todas as noites, até muito depois de eles já serem leitores autónomos.
Estes pais conseguiram, sem gastar dinheiro, fazer dos seus filhos pessoas excepcionalmente inteligentes, muni-los de uma cultura geral invejável, ao mesmo tempo que criavam com eles laços estreitos através da partilha de tempo de qualidade, que, por ser propiciado pela leitura, permitiu também conhecerem-se melhor, partilhar medos, preocupações, alegrias – porque as vidas das personagens das histórias que liam lembraram medos, receios, experiências que, se não fosse pela leitura, provavelmente não teriam sido partilhadas.
Digo que o fizeram com pouco dinheiro porque não é preciso comprar livros novos todos os dias. Podemos ler aos nossos filhos os livros que fazem parte das nossas bibliotecas pessoais, podemos recorrer às bibliotecas públicas, podemos comprar livros usados. Nem tem de ser tudo novo, nem tem de ser tudo nosso.
Por outro lado, a leitura tinha um carácter eminentemente lúdico, não eram pedidas fichas de leitura, não havia classificações de testes em jogo. Não havia pressão. Apenas a partilha, em família, de tempo.

Em suma, podemos dizer que todas as actividades extra escola em que inscrevemos os nossos filhos, que nos ficam caríssimas, que nos fazem correr com eles de lado para lado, fazendo do nosso fim de dia um tempo de discussões infindáveis, cheios de expressões feias como “despacha-te!”, “estamos atrasados!” e a traiçoeira “não tenho tempo!” – quando todos precisamos de parar, de chegar a casa, de despir o dia, não são, afinal, assim tão necessárias. Ficar-nos-ia muito mais barato e o retorno do investimento seria muito maior e muito mais duradouro se dispuséssemos do nosso tempo.