Mãe-coragem


Sonya Carson vinha de uma família de 24 irmãos, estudou até ao terceiro ano, casou com 13 anos e criou, sozinha, dois filhos, rapazes, num dos bairros mais violentos de Detroit, uma das cidades mais perigosas dos Estados Unidos. Trabalhava como empregada doméstica em várias casas e os filhos eram os piores alunos das respectivas turmas. Um dia, ela decidiu que trabalhava demasiado para ter dois filhos mandriões, que acabariam certamente num gang, tornando-se assassinos ou sendo assassinados. Apresentou-lhes um ultimato: não podiam sair para brincar com os amigos antes de aprenderem a tabuada. A televisão ficou limitada a três programas por semana e obrigou-os a ler semanalmente dois livros da biblioteca pública. Ler os livros e escrever um resumo à mãe. Eles não faziam ideia que a mãe não sabia ler o suficiente para perceber o que eles escreviam. Até porque ela enchia as folhas de sublinhados a vermelho, fazendo parecer que tinha lido com muita atenção. O mais novo andava no quinto ano e era o pior aluno da turma. Achou que as novas regras eram tortura. O que aconteceu, no entanto, é que ele descobriu nos livros um refúgio que o protegia da violência das ruas. Dentro das capas dos livros, ele podia ser o que quisesse e corria para casa, cada vez com mais pressa, para ler. Passado um ano, ele era o melhor aluno da turma. Estudou medicina e tornou-se no mais jovem chefe de neurocirurgia pediátrica. Chefiou a equipa de cirurgiões que, numa sessão de 22 horas, separou duas gémeas siamesas, unidas pelo cérebro. O que esta mãe não tinha em estudos compensava em bom senso.