Da lógica. Do AO e do CE

Acabo de descobrir mais uma fantástica do fantástico Acordo Ortográfico.
Então não é que se escreve reeleger, mas re-eleito, que é uma palavra derivada da anterior?!
Percebem a lógica? Tem toda a lógica! A lógica da batata. Só pode.
Começo a achar que tentar perceber o AO é como tentar perceber o Código da Estrada. Já repararam que, quando vamos a exame de código, ele pode correr bem ou pode correr mal. E passa-se mais ou menos assim: ou sabemos a resposta de cor e assinalamos a resposta certa e pronto, ou temos dúvidas. Se temos dúvidas, sentimo-nos tentados a pensar, a utilizar a lógica. E estragamos tudo. Porque o CE escapa, frequentemente, a qualquer tipo de raciocínio lógico. O AO não escapa frequentemente a qualquer tipo de raciocínio lógico: escapa sempre.

Nota: Foi neste vídeo que vi esta informação: http://www.youtube.com/watch?v=ymKPmVHLcxg&feature=youtu.be

Advertiram-me que isto não pode ser confirmado nem no ILTEC nem em nenhum dos dicionários que já usam o AO. No entanto, nenhuma dessas ferramentas é fidedigna, em virtude de não seguirem o vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa… porque ainda não está feito, embora seja uma das condições essenciais, previstas pelo AO90 para a sua aplicação. Fica, no entanto, o esclarecimento.

E volto ao (des)acordo…

Declaração de interesses:

Eu sou de causas apaixonadas. E também sou daquelas a quem, de vez em quando, salta a tampa.

Esta manhã, preparava-me para sair de casa quando vi, no grupo “Professores contra o Acordo Ortográfico”, no Facebook, um post que rezava:

“Soi professor e não sou contra o acordo ortográfico…Tenho muita dificuldade em compreender que não compreendam que a língua sempre evoluiu ao longo dos séculos…A língua portuguesa não é uma lingua per se, mas resultou do latim ( entre outras…)…Daí a necessidade de caminhar nalinha da facilitação da comubucação…Afinal por que não escrevemos como Fernão Lopes’…” (sic)

E, como podem calcular, saltou-me a tampa.

Honestamente: tenho muita dificuldade em compreender que não compreendam que as pessoas que são contra o Acordo Ortográfico de 1990 (AO90) não são contra a evolução da língua. Aliás, se me permitem, considero esta insinuação insultuosa. Nenhuma pessoa minimamente inteligente pode ser contra a evolução de uma língua viva. O Latim pode evoluir? Não, obrigada, ninguém o fala. O Português pode estagnar? Não pode, (não) temos pena. É falado todos os dias, por demasiadas pessoas, em demasiadas partes do mundo para deixar de mudar, muito, permanentemente. As pessoas que combatem a aplicação deste AO90 não são contra esta evolução da língua, bem pelo contrário. É por reconhecermos esta mudança inexorável e pelo respeito que temos por ela que nos insurgimos contra o AO90. O Português muda todos os dias. Muda em Portugal, muda no Brasil, em Angola, em Moçambique, na Guiné, em Cabo Verde, em S. Tomé, em Timor. E muda igual? E muda da mesma maneira? Nas mesmas coisas? Como poderia, com influências tão diferentes, relacionadas com os espaços geográficos, com as pessoas, com as vizinhanças? Somos contra este acordo ortográfico porque ele não respeita esta diversidade. O AO90 não respeita, não aceita a evolução da língua. E porque não é acordo. E não é ortográfico.

Alice Munro

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Alice Munro

A Academia Sueca anunciou na semana passada o nome do vencedor do Prémio Nobel da Literatura 2013. Alice Munro, uma mulher canadiana que escreve contos sobre mulheres. Porquê contos? Porque não tinha tempo, entre trabalhar e tratar dos filhos, para se dedicar ao romance, género mais longo e mais complexo. Confesso a minha ignorância: nunca li nada dela. Isto está, no entanto prestes a mudar: logo que acabe The Lowland, de Jhumpa Lahiri, mergulho em The Beggar Maid e, de seguida, em todos os outros, tenho a certeza, porque Munro tem tudo para ser uma nova favorita: o conto é um dos meus géneros preferidos e as vidas das mulheres fascinam-me.