Na primeira pessoa 2

Neste pequeno segmento, podemos testemunhar a reacção dos pais. Como esta actividade, tão simples, foi acolhida em casa.

Apenas uma nota para informar que estes segmentos foram “cortados” por mim. Por isso não estão lá muito bem… As minhas desculpas.

Na primeira pessoa

Hoje apetece-me. Ando há muito para fazer isto, e hoje é dia.

Este é o primeiro de uma série de pequenos segmentos da Grande Reportagem SIC que foi para o ar em Janeiro de 2012. Falava sobre o projecto de leitura que implementei com muito sucesso junto dos meus alunos do 2º ciclo – e que continuo a implementar, tendo alargado o público-alvo.

Neste primeiro vídeo, sob o olhar atento de um relógio que pára, cada aluno lê uma primeira frase de um conto diferente, dando uma ideia da variedade de temas sobre os quais lemos.

Crucifiquem-me

Como professora de Língua Portuguesa, quero que os meus alunos aprendam tudo sobre o texto narrativo, o texto poético e dramático. Quero que dominem a morfologia e a sintaxe. Que se exprimam oralmente e por escrito com crescente mestria.
Mas se eu não conseguir nada disto e se os meus alunos saírem da minha sala a gostar de ler, aí sim. Terei atingido o meu objectivo mais querido, aquele que me tira da cama todos os dias.
É por isso que lhes leio tanto, quase todas as aulas. E eles já me apanharam o pulso. Sabem que há sempre novidades, e sabem que eu estou sempre mortinha por lhes ler mais um conto.

diz uma aluna…


A Oficina de Leitura é um projecto que tem vindo a fortalecer as crianças, desde os pequeninos aos mais velhos. Sem dúvida nenhuma, este Projecto tem uma boa função: normalmente, em todas as idades, sejam crianças, adolescentes ou adultos, não mostram interesse pela leitura. O nosso Projecto tem o desafio de despertar em todos o gosto pela leitura e nestes últimos tempos temos vindo a observar bons resultados. Vamos ler às escolas e os meninos pedem sempre mais, e vê-se na carinha de todos que gostam das histórias que lhes são lidas, e ver isso em todos ainda nos dá mais prazer de lhes ler, de passar mais tempo com eles.
Falo por mim, e penso que todos os que estão neste grupo o dizem também: nós, que chegámos a esta escola pequeninos, traquinas, sem interesse e sem preocupação pelas disciplinas, principalmente a disciplina de Língua Portuguesa que é o que se aplica aqui, a professora Eduarda Abreu conseguiu despertar em nós aquele gosto pela leitura que estava adormecido em nós, através de pequenos contos, exercícios de relaxamento… parecia que quando ouvia aquelas histórias suaves, maravilhosas a entrarem pelos meus ouvidos, parecia que entrava num mundo fora da realidade, e além do mais esquecia todos os problemas que uma criança tem, sejam em casa, na escola, tudo, era como se entrasse nas histórias ou vivesse um Conto de Fadas. Não sei se aconteceu com alguém, mas comigo aconteceu, num dos exercícios de relaxamento que a professora Eduarda fez eu consegui ver a imagem de uma pessoa muito próxima, não cheguei a conhecê-la, só a conhecia por fotografias, parecia que comunicava com ele e fiquei um bocado assustada, mas no entanto percebi que foi bom aquele momento, principalmente depois de desabafar com a professora Eduarda e ela me dar um ombro amigo.
Entrar nesta Oficina, para mim, foi um desafio muito bom de superar, fiquei mais culta, e de certa forma também contribuiu para a minha maturidade.
Não me arrependo de passar as sextas-feiras de tarde rodeada de meninos pequeninos, que me surpreendem de dia para dia, gostarem tanto da leitura, e eu que me arrependo de não ter podido passar assim pequenos momentos, que me lessem contos, para viver uma vida ainda mais feliz, mas aproveito agora, para que não me escape nenhum menino de se vir a arrepender do que eu me arrependi.
Queria que este projecto continuasse, para continuarmos a fazer a nossa função e dar a oportunidade a adolescentes da nossa idade entrarem também neste Projecto.
Peço mesmo, do fundo do meu coração que este Projecto continue!

Os (meus) Contadores de Histórias


Hoje, quando começámos a Oficina, os alunos – as alunas, para ser mais precisa – fizeram-me um desabafo, com um ar muito infeliz:
“Isto é pouco. Nós só vamos ler a duas escolas, só no concelho de Vizela, não vamos a outros sítios, nem a todas as escolas de Vizela. Nós podíamos ir a mais escolas: a Guimarães, por exemplo…”
Eu já vi este filme. Meteram na cabeça. Passam-me a batata quente e eu tenho de arranjar maneira de lhes resolver o problema.
O mais espantoso é que estamos a falar de crianças de 12, 13 anos que vão, na única tarde livre que têm em toda a semana, ler aos Jardins de Infância e às escolas do 1º ciclo das suas freguesias – voluntariamente. (Quantos adultos fazem trabalho voluntário?)
Mas o que fazem sabe-lhes a pouco. Querem ler em lares de terceira idade, noutros infantários, noutras escolas. E eu arranjei um colégio em Guimarães onde serão bem recebidos às sexta-feiras de tarde. O único problema é que não posso transportar mais do que quatro alunos de cada vez. Mas posso levar quatro alunos de cada vez!

Conto Contigo

Havia há muito decidido desenvolver uma actividade de incentivo à leitura que envolvesse não só os alunos, mas também o seu agregado familiar. Comecei por “sondar” se os alunos estariam receptivos a ler os contos que eu queria que eles lessem. Logo no início do ano, na primeira aula, em jeito de boas vindas, li-lhes um conto, o Encontro com a Dama das Histórias, de que me pareceu terem gostado muito. Passados uns dias, li um outro e, desta vez, mostraram-se tão entusiasmados que decidi aceder ao seu pedido de lhes fotocopiar conto (O Relógio da Avó).
Quase todas as semanas, e porque eles sabem que tenho sempre contos novos “na manga”, lia-lhes mais um, no final de uma aula que acabasse uns minutos mais cedo, por exemplo.
Como prenda de Natal, ofereci-lhes um novo conto, com uma lindíssima mensagem natalícia: A Surpresa do Pai Natal. Foi como se lhes tivesse dado o Sol.
Entretanto, fui perguntando se falavam dos contos em casa, se liam com os pais os que levavam fotocopiados. Que sim, que os pais adoravam, que queriam voltar a lê-los. Estava preparado o terreno.

Escolhi alguns contos, juntei-lhes um pequeno papelinho: “Gostou de conto que o seu filho leu? Porquê?” e três linhas para o adulto explicar por que tinha ou não gostado. Pequenino o papel e pouco espaço para escrever. Não podia assustá-los pedindo um relatório…
Pensava eu que o terreno estava preparado e que os pais, pelo menos num número aceitável, viriam a aderir à actividade. Enganava-me, no bom sentido. Em resposta ao primeiro conto, recebi duas cartas: “a minha mãe disse que aquele espaço não chegava para escrever tudo o que ela queria.”; “está com a minha letra, mas foi o meu pai que escreveu e eu copiei para esta folha” (um apontamento pela mão do pai, no fim da página, confirmava). Foi uma surpresa muito grande e muito boa.
Os comentários ao terceiro e ao quarto contos eram já mais elaborados do que os primeiros, que, na maioria, se limitavam a dizer que gostaram porque “era bonito” ou porque “era interessante”.
Entretanto, começaram a pedir mais, pais e alunos: “a minha mãe já perguntou quando nos dá mais um conto”, “a minha irmã diz que já lhe marcou falta”.

Poderia dizer que, nesta altura, eu estava em êxtase. Mas ficaria sem palavras para descrever o que senti quando, um dia, a Psicóloga da escola me disse “não sabes o que aconteceu ontem”. E contou-me. No dia anterior havia decorrido a primeira sessão de uma acção de formação para os pais e encarregados de educação intitulada “Pais à Medida”. Entre outros temas, abordou a necessidade de os pais passarem tempo com os filhos – e de esse tempo ser de qualidade. Um pai concordava, exemplificando com a oferta televisiva, que absorve, tantas vezes para programas desadequados, a atenção das crianças/adolescentes, outro pai completava com os jogos de computador, com a Internet. E foi então que um deles disse: “Agora uma professora tem mandado uns contos para casa, para eles nos lerem. Estamos ali juntos enquanto eles lêem. Os contos são sempre muito bonitos. E depois acabamos por ficar meia hora ou mais a falar daquilo.” Outro pai concordava, acrescentava um comentário, uma mãe dizia também qualquer coisa. A Psicóloga confessou: “Eu fiquei pasma a olhar para eles. Deixei-os falar, nem disse nada.” E depois acrescentou “Agora sou eu quem quer ler esses contos”. Falou-me do entusiasmo com que os pais falavam dos contos, recontavam as histórias, diziam do bem que os contos estavam a fazer aos filhos.
Foi nessa altura que achei que podia começar a pedir comentários mais longos um bocadinho: aumentei o número de linhas de três para seis, nos tais papelinhos que acompanhavam o conto. Os pais corresponderam, tal como eu esperava, escrevendo comentários mais elaborados, mais completos.

Aproximando-se o fim do período, escrevi aos pais e também aos alunos agradecendo a colaboração e pedindo que respondessem a um pequeno inquérito, no sentido de fazer uma avaliação do projecto e da pertinência de lhe dar continuidade no terceiro período.
As respostas, que apresento nos gráficos das páginas seguintes, não deixam dúvidas. Os contos foram um sucesso, dentro e fora da sala de aula. Sobretudo fora da sala de aula, diria.
É por vezes muito difícil implementar uma actividade na escola que chegue realmente às casas dos alunos, mas desta vez isso aconteceu de uma maneira muito bonita. Mais ainda por ter sido através da palavra escrita, que tanta reserva suscita em algumas pessoas, de todas as idades.

E, se a participação dos pais foi tão surpreendentemente massiva, parece-me que podemos aprender que, contrariamente ao que por vezes achamos, os pais dos nossos alunos têm muito para dar. Precisam é de uma oportunidade.

Eu fiz a diferença


Houve muitos aspectos muito compensadores na actividade de leitura recreativa que desenvolvi com as minhas turmas de sexto ano, no ano passado. O envolvimento dos alunos, que aderiram em massa, foi surpreendente. Tanto, que culminou com a criação deste blogue, de uma página no Facebook com o mesmo nome e de uma Oficina de Leitura cuja principal actividade é a leitura semanal de contos, pelos alunos, a crianças mais novas (pré-escolar e 1º ciclo), no sentido de fazer despertar nos colegas o amor que eles descobriram que têm pela leitura.

O envolvimento dos pais, que pediam novos contos todas as semanas, várias vezes por semana, foi mais surpreendente ainda. Porque têm apenas a escolaridade obrigatória – se tanto – porque passaram toda a vida trabalhando em fábricas ou na construção civil. Porque “a gente trabalha tanto que até se esquece das coisas de que gosta”, como me dizia uma mãe, no final do ano.

Mas, de tudo, o que não posso esquecer são estas palavras, textuais, de uma aluna: “Todos os professores dizem que nós temos de ler, que precisamos de ler mais. Mas a professora não. A professora quis saber, preocupou-se, fez alguma coisa. E agora nós gostamos de ler, lemos muito e gostamos.” A mesma aluna que agora me chama “professora de leitura” – sem sarcasmo, sem ironia, apenas como quem sabe que é assim que me recordará – como a professora que a ensinou a gostar de ler.

Na verdade, o que eu fiz nem sequer me deu muito trabalho. Apenas fotocopiei um conto por semana, para eles lerem em casa com os pais. Não escrevi os contos, não os digitalizei – tinha-os no “Cofre” e fotocopiei-os. Um por semana. Não é complicado.

Por que é que outros professores são tão reticentes a tentar esta estratégia? Por que é que partem do princípio que não funcionará? Ainda nem sequer experimentaram.

O guarda-chuva

“Contos para Crescer” é como um guarda-chuva.
Quer dizer: há vários projectos, cada um com o seu nome, de acordo com as suas especificidades. No seu conjunto, formam o projecto “Contos para Crescer”. Assim como se estivessem protegidos pelos “Contos para Crescer”, como um guarda-chuva.
Então temos:
“Hora do Conto”, a implementar no próximo ano lectivo, nos Jardins de Infância e nas Escolas Primárias;
“Conto Contigo”, que já se implementou este ano, nos sextos anos, que foi o ponto de partida de tudo isto e que vai crescer;
“Ler para escrever a Alma”, a Oficina de Leitura e Escrita, para todos os que quiserem (nome provisório – aceitamos sugestões!).
É mesmo como um guarda-chuva.

Conto Contigo

A ideia de implementar um projecto de leitura recreativa como o “Conto Contigo” era um sonho de há muito tempo. Aconteceu este ano. Sou obrigada a confessar que a reacção que obtive, tanto por parte dos alunos, como dos pais, excedeu as minhas melhores expectativas. Ultimamente, nos comentários que me fazem chegar, os pais esquecem-se que peço o comentário ao conto e escrevem que os filhos lêem cada vez melhor, que eles próprios gostam cada vez mais de ler. Para não falar naqueles que, em vez de um comentário, me escrevem uma carta…

Sinto-me como se tivesse passado longos anos atravessando um deserto e esteja enfim chegando a um oásis. Gosto muito de ler. Quero que todas as pessoas à minha volta compreendam que se trata de um prazer que nada pode igualar. Os meus alunos começaram agora a perceber a magia da leitura, o tapete mágico que um livro pode ser. Para mim, é um sonho que começa a realizar-se. Continuar a ler