Da conjugação simultânea dos verbos Ler e Ouvir

Eu leio.

Tu ouves?

Quem lê histórias em voz alta, seja para os seus alunos, seja para os seus filhos, acaba sempre por se fazer esta pergunta.

Como saber se a história está a “entrar”?

É sabido que eu sou uma viciada sem qualquer tipo de sentimento de culpa nisto de contagiar com o vírus do gosto pela leitura. E os meus alvos preferenciais são… as minhas filhas e os meus alunos. Se é verdade que a experiência que vivo com umas e com outros tem muitas coisas em comum, também é verdade que é muito diferente em muitos aspectos.

Desde logo, pela idade dos meus “alvos”, que impõe escolhas e mecânicas diferentes.

Com as minhas filhas, sendo elas crianças iguais a todas as outras da sua idade, li milhões de vezes as mesmas histórias. Mas elas são muito diferentas e, se a reacção da mais velha, que “papagueava” a história mal eu virava a página, não me deixava dúvidas de que ouvia, e bem, as histórias que eu lhe lia, milhões de vezes cada uma, já a mais nova, fiel ao seu estilo “deixem-me estar”, ouvia apenas, calada. Ouviria? Um dia decidi que tinha de saber se ela prestava atenção, se a história “entrava”. Recordo-me lindamente, como compreenderão. Estávamos a ler o fantástico “Boa Noite, Ursinho!”. Na primeira história, “Uma Longa Sesta”, a Mamã porco-espinho faz uma fantástica compota de maçã. Eu “li” pêra. A rapariga saltou. A reacção dela foi exactamente como se tivesse levado um valente choque eléctrico pela perna abaixo. “Não é pêra, é maçã!” Repeti a brincadeira pela história adiante e a reacção dela repetiu-se também. Fiquei a saber que sim: ela ouvia, retia a história com todos os detalhes e esta brincadeira tornou-se numa das nossas preferidas à hora de ler.

Coloco-me este problema com os meus alunos. É sabido, porque já o partilhei aqui, que lhes leio todas as aulas. Mesmo todas. Estamos a acabar o terceiro volume de “As Crónicas de Nárnia”, de C. S. Lewis – e estamos, eu e eles, cada vez mais apaixonados por estas histórias. Os pais dizem-me que eles adoram, que têm lido imenso em casa (a mãe de uma aluna contou-me que, durante as férias do Natal, ela leu uns dez livros). Mas… será que ouvem? Será que a história entra neles como entra em mim? Como saber? Não posso fazer com eles o mesmo que fiz com a minha pequenita, porque não estão a ouvir a história pela milésima vez, não poderiam saber que eu tinha lido a palavra errada.

Já o disse, repito, repetirei até à exaustão: estes livros são riquíssimos. A história é empolgante, a escrita é maravilhosa.

A descrição da travessia do deserto, no capítulo 8 é extraordinária.

“E lá continuaram, ora a trote, ora a passo, ora a trote, tlim-tlim-tlim, range-range-range, cheiro a cavalo com calor, cheiro a pessoa com calor, brilho ofuscante, dores de cabeça, sem nada de diferente quilómetro após quilómetro. Tashbaan recusava-se a parecer mais distante. As montanhas recusavam-se a parecer mais próximas. Era como se aquilo fosse continuar para sempre – tlim-tlim-tlim, range-range-range, cheiro a cavalo com calor, cheiro a pessoa com calor.”

Este é apenas um pequeno parágrafo, mais ou menos a meio de uma descrição que se estende ao longo de cinco ou seis páginas. É um texto forte. O cansaço, o calor, o brilho ofuscante da luz, a sede, a distância imensa, a imensidão do areal. Eu li e achei: “Atravessar o deserto deve ser uma coisa horrível!” Mas e eles? Terão pensado o mesmo?

“Ora bolas! Não era uma aula de Português? Aplicava uma ficha, um guião de leitura que permitisse aferir quanto e como os alunos tinham compreendido!”

Não! Nem morta! Eu quero que eles experimentem ler pelo puro prazer da leitura. Não vou estragar uma história de que estão a gostar tanto (parece) com uma ficha de trabalho.

Hoje lemos o capítulo 13, “A Batalha em Anvard”.

O Eremita da Fronteira Sul narra os acontecimentos: quem ataca, quem defende, que cavaleiros caem, que cavalos fogem, quantos soldados atacam a linha inimiga. E, no final da batalha, lá está Rabadash (que, para quem não conhece a história, é o mau) suspenso das muralhas do castelo. “A cota de malha estava repuxada para cima, de modo que o apertava terrivelmente debaixo dos braços e lhe cobria metade da cara. Na realidade, parecia um homem apanhado a vestir uma camisa demasiado pequena.”

E foi aqui. A turma rebentou numa gargalhada. Não uma daquelas gargalhadas em uníssono, como quando uma anedota chega ao fim e está na hora de nos rirmos todos. Não. Uma gargalhada de cada um, dos que estavam de pescoço erguido, a ver, e dos que estavam com o queixo pousado nas mãos, cruzadas sobre a mesa.

E eu soube: eles ouvem, sim. Eles sabem que Rabadash não merecia menos do que aquele final ridículo.

Memorial do racismo

Quando, em Junho, Nelson Mandela foi internado na sequência de uma infecção pulmonar, as televisões, naturalmente, não falavam de outra coisa. Todos os noticiários abriam e fechavam com notícias sobre o seu estado de saúde. Ou melhor: com a falta de notícias sobre a evolução da saúde de Mandela. Nessa altura, as minhas filhas, de sete e quatro anos, quiseram saber que pessoa era aquela que “monopolizava” noticiários inteiros. Expliquei-lhes quem foi, o que fez, onde, porquê… e elas perceberam a importância histórica desta figura. Ontem, quando ouvi que Mandela tinha morrido, percebi imediatamente que a minha aula de Português desta manhã teria de ser sobre ele. E tinha de ser esta manhã, porque sabemos que, ao longo de todo o fim de semana, não se falará de outra coisa e os meus alunos, de quinto ano, têm de saber ouvir as notícias. Nas pesquisas que efectuei sobre como falar de Mandela às crianças encontrei este texto de Leo Salvador, que descreve uma visita ao Museu do Apartheid, em Joanesburgo. Vale a pena ler.

apartheid

Na África do Sul, o tempo mede-se em “antes de 1989” e “depois de 1989”. Este foi o ano em que acabou o “apartheid”, o regime de segregação racial imposto pelos brancos. As marcas deste regime estão patentes no Museu do Apartheid, em Joanesburgo.

Quinze minutos depois de sair do aeroporto internacional de Joanesburgo, a maior cidade da África do Sul, chego ao Museu do Apartheid. Neste edifício retratam-se os 78 anos de segregação racial que feriram a convivência entre Sul-Africanos de 1911 a 1989. E escreve-se a história dos últimos 17 anos, nos quais se multiplicam os esforços por construir um futuro cheio de esperança e de paz.

Memorial

O edifício do museu tem um desenho moderno e atraente. Situa-se num espaço que já foi um complexo industrial de uma empresa mineira, conhecido como Gold Reef (Recife de Ouro). Os vestígios das minas de ouro pintam as colinas de amarelo. Mas, com o passar do tempo, algumas já se cobriram de verde. Outrora as minas surgiam como fungos. Actualmente estão esgotadas.

Enquanto me aproximo do museu ouço gritos que vêm de um parque nas vizinhanças. Lembram-me os clamores das manifestações escolares nos anos da discriminação racial. Os gritos que escuto agora também são de alunos, expressão de alegria e diversão.

O edifício ocupa 6000 metros quadrados, o equivalente a dois campos de futebol. Nele destacam-se sete lápides com 12 metros de altura. Lembram os sete pilares da nova constituição do país: liberdade, respeito, responsabilidade, diversidade, igualdade, reconciliação e democracia. Outros elementos, como o muro alto de pedra e a entrada, remetem-me para imagens de prisões. Na área exterior há fotografias que retratam os povos e culturas que conviviam antes do regime racista, a época das classificações das raças e os anos de sofrimento e terrores. Fazem memória da segregação e das detenções.

Pago a entrada. Recebo um bilhete que me classifica aleatoriamente como não branco e, de acordo com esta classificação, devo entrar pela porta que diz, em letras grandes, no dialecto afrikaans e em inglês «Nie-Blankes; Non-Whites». Outros entram pela que diz «Blankes; Whites». Ainda que a fingir, experimento a impotência de ser obrigado a entrar pela porta dos não brancos.

As duas portas dão para corredores paralelos, separados por uma parede de pequenas celas de arame, e, durante algum tempo, os grupos mantêm-se divididos. Nas celas pequenas, que parecem gaiolas, expõem-se passes de «não brancos» e de «negros». No centro descrevem-se as classificações raciais que o sistema do «apartheid» praticou: mestiços, asiáticos, malaios, chineses… E pormenoriza-se a divisão entre africanos, conforme as tribos: bantus, sotho, zulus, xhosa, tswana, ndebele… No final deste corredor, os que recebemos a classificação de não brancos deparamo-nos com uma fotografia à escala real de quatro homens brancos, sentados numa grande secretária. Recria a «Race Classification Board» (Comissão de Classificação Racial) que catalogava as pessoas segundo a cor da pele.

Entrar na história

Visito 22 espaços. Faço uma viagem tão emocionante quanto dramática pela história escrita por um sistema fundado na discriminação racial. Sinto-me regressar aos anos 70 do séc. XX. Imagino-me a esquivar-me às granadas de gás lacrimogéneo e às balas da polícia; a marchar juntamente com a multidão de estudantes, alguns com brinquedos na mão; a arrastar o corpo ferido de um amigo, para o proteger da polícia.

As fotografias, os vídeos, os textos e os objectos mostram-me diferentes episódios de segregação racial e de repressão. As televisões passam cenas de acontecimentos horríveis que aconteceram em todo o mundo no mesmo dia de 1976 em que o menino Héctor Peterson foi morto durante uma manifestação de estudantes em Soweto. Ou transmitem o discurso de Henrik Verwoerd, tido como o arquitecto do «apartheid». Ele explica a uma multidão que a África do Sul só será feliz se as raças viverem separadas.

Entro num veículo de assalto da polícia sul-africana que tantas vezes ocupou a primeira linha nos ataques aos manifestantes. Assisto a filmes captados desde o interior do blindado, quando circulava pelos bairros onde «depositaram» à força os negros, os «township».

Entro numa sala onde pendem 121 forcas de corda. Lembram todos os condenados à morte durante o «apartheid».

Termino a visita num espaço sereno e reconfortante: a sala da memória. Aqui está exposta a nova Constituição da África do Sul. E cada visitante pode contribuir criativamente para prolongar a exposição. Se tem gosto e jeito pode fazer um desenho ou uma escultura. Também pode optar por deixar as suas impressões num estúdio de gravação áudio, de modo que outros as possam ouvir.

Lição final

Saio do Museu do Apartheid com a ideia de que nele se confrontam tragédia e heroísmo, tirania e liberdade, caos e paz. Vejo-o como um farol de esperança, que mostra ao mundo como a África do Sul aprendeu a renascer; e como um testemunho do trabalho desenvolvido para construir um futuro onde todos convivam sem quaisquer distinções.

“Apartheid”

A era do «apartheid» na África do Sul começou em 1911, quando a minoria branca, composta por descendentes de britânicos e de holandeses, promulgou uma série de leis que afirmavam a sua superioridade e domínio sobre a população negra.

O «apartheid» negou os direitos dos negros: de ter uma terra, de participar na política e de gozar de igualdade de tratamento na educação, no trabalho, nos transportes públicos, no acesso à cultura e na prática da religião. A minoria branca obrigou os negros a viverem em bairros separados dos deles. E declarou ilegais os casamentos entre pessoas de raças diferentes.

A oposição ao «apartheid» surgiu logo em 1912, com a criação do Congresso Nacional Africano (ANC, em inglês). O seu líder, Nelson Mandela, foi condenado à prisão perpétua em 1964. Mas, entretanto, muitos países pressionaram o Governo sul-africano para pôr fim à política de segregação racial. O fim do «apartheid» dá-se em 1989. Um ano depois, Mandela é libertado.

Em 1993, o presidente sul-africano Frederik De Klerk e Nelson Mandela ganham o Prémio Nobel da Paz. No ano seguinte, Mandela conquista a presidência do país e forma o primeiro governo multirracial.

Leo Salvador

Nelson Mandela, o grito da liberdade

mandela

Pagou com muitos anos de cativeiro a sua oposição à discriminação da população negra da África do Sul. Nos piores momentos, jamais desanimou. Soube esperar e olhar para a frente com confiança e optimismo, apesar da pressão e dos medos que defrontou. E, sobretudo, soube ser reconciliador enquanto presidente dos  Sul-Africanos de 1994 a 1999.

Nelson Rolihlahla Mandela nasce a 18 de Julho de 1918 numa diminuta aldeia do distrito de Umtata, capital do Transkei, na província do Cabo, no Sudeste da África do Sul. Cresce nesta região de colinas suaves e vales férteis, entre os montes Drakensberg e as águas do oceano Índico.

Difunde-se, durante muito tempo, a ideia de que ele descende de reis, mas na realidade estes rumores são um mito. O seu pai foi chefe da aldeia e conselheiro dos governadores da tribo Xhosa, um povo orgulhoso, que dá grande importância às leis, à educação e ao acolhimento dos estrangeiros.

Mandela faz os primeiros estudos numa escola cristã metodista. Depois frequenta a Universidade de Fort Hare, o único centro de estudos superiores que, naquela época, acolhe estudantes não brancos, a 250 quilómetros da sua casa. Cursa Direito. Mas em 1940 é expulso de Fort Hare por participar numa greve estudantil.

No ano seguinte, vai para Joanesburgo, a maior cidade da África do Sul. Apresenta-se no escritório da empresa Crown Mines. Quer trabalhar nas minas de ouro, minas que nada têm de dourado, pois a terra árida, sem árvores, é esventrada, os ruídos das perfuradoras são estridentes e trovejam os estoiros dos cartuxos de dinamite. Consegue trabalho como vigilante, e assim paga os estudos.

Durante este período, filia-se no Congresso Nacional Africano (ANC, sigla em inglês), um movimento nacionalista fundado em 1912 e dirigido por Albert Luthuli – chefe zulu, professor e líder religioso –, que foi Nobel da Paz em 1960 (foi o primeiro africano distinguido com este prémio).

Em 1952, Nelson Mandela inscreve-se na Ordem de Advogados de Joanesburgo. Ele e Oliver Tambo são os primeiros advogados negros sul-africanos.

Desde 1948, sucedem-se as greves, os atentados e as manifestações contra o regime de apartheid que governava o país com a força das armas e das leis racistas. Os negros são obrigados a viver marginalizados, num Estado que separa as pessoas por classes sociais conforme a cor da pele. São imensas as vítimas de maus-tratos e, também, as mortes. Os movimentos nacionalistas negros são ilegalizados.

Mandela tem de se esconder. É o homem mais procurado pela polícia. Consegue escapar, recorrendo a todo o tipo de disfarces, até à manhã de 5 de Agosto de 1962. É preso numa estrada secundária a 30 quilómetros de Pietermaritzburg, e condenado a sete anos de prisão. Dois anos depois levam-no de novo a tribunal e, desta vez, a sentença é prisão perpétua. Mandam-no para a cadeia de alta segurança em Robben Island. Na porta da sua cela põem uma placa com a inscrição «N Mandela 466/64». Indica que é o preso número 466, admitido na ilha em 1964. Ele tem 46 anos.

A notícia da condenação de Mandela chega a todo o mundo. É considerado prisioneiro político. E numerosas organizações reclamam, desde logo, a sua libertação imediata. Milhões de estudantes por toda a Terra lançam um grito unânime: «Mandela Livre!»

Este grito só é ouvido pelo presidente Frederik Willem de Klerk, a 11 de Fevereiro de 1990, que manda libertar Mandela e põe fim a 27 anos de cativeiro. Neste dia começa a criação de uma nova África do Sul. Frederik de Klerk, o último presidente branco desta nação, acaba com o apartheid. Brancos e negros já podem estar juntos nos parques, jardins, transportes e restaurantes; viver nas mesmas aldeias e cidades; frequentar as mesmas escolas, universidades, empresas e igrejas.

Frederik de Klerk e Nelson Mandela recebem o Prémio Nobel da Paz conjunto em 1993.

A 27 de Abril de 1994, Mandela é eleito presidente da África do Sul. Compromete-se a libertar o povo das cadeias que ainda o aprisionam: a miséria e o ódio. No ano seguinte cria a Comissão para a Verdade e Reconciliação, com o propósito de promover a unidade e a reconciliação nacionais, num espírito de entendimento. E pede ao arcebispo anglicano Desmond Tutu, Nobel da Paz em 1984, que a presida.

Em 1999, Nelson Mandela retira-se da política e passa a dedicar-se à defesa dos direitos humanos, o que lhe vale, em Novembro de 2006, o prémio Embaixador de Consciência, atribuído pela Amnistia Internacional.

Leo Salvador

Reflexão de uma professora sobre a componente comum da prova de avaliação de conhecimentos e capacidades dos professores

Na miserável existência que é a vida de um professor detive-me, hoje, porque estava sol e decidi preguiçar um pouco (às vezes ainda mo permitem ao domingo) a analisar o modelo de prova que pretendem aplicar aos meus colegas “destratados”. Sim, destratados, porque a prova, tirando uma única questão de reconhecida importância, pois aborda a frequentemente incorreta separação do sujeito e do predicado, tudo o resto me pareceu burlesco e até ominoso. Não consegui vislumbrar o que se pretende aferir ali; uma questão de desenvolvimento que pouco tem para desenvolver, com um tema puído que poderá servir para adormecer uma insónia; uma outra questão que, aparentemente de lógica, me parece intencionalmente entretida a saber se os professores conhecem o abecedário e uma outra que entrelaça promiscuamente uns círculos que decidem das atividades que alguns alunos frequentam. Bem! Posto isto, que dizer?

Não seria mais sério, mais franco, mais transparente comunicarem que apenas pretendem despedir e extorquir uns trocos aos futuros desempregados? Não seria menos hipócrita, menos obsceno e menos atrabiliário darem a cara e usarem como arma o respeito por quem trabalha na formação de gerações futuras, dignificando uma classe escravizada e torturada diariamente por uma oligofrenia desenfreada?

E que dizer daqueles que se ofereceram para coveiros dos colegas?

A mim, parece-me óbvia a resposta. E a vós?

Vá, lá, conhecem aquela que diz “o respeitinho é muito lindo”?

Pois é. Sejam lindos!!

Lídia Peixoto

24 de Novembro de 2013

O Rouxinol do Imperador

rouxinol

Na China de outros tempos, certo imperador vivia no palácio mais extraordinário, todo de porcelana fina, de magnificência sem igual. O jardim circundante exibia as flores mais raras, e as que se distinguiam pela sua beleza tinham campainhas de prata que, tocando, chamavam a atenção de quem passava.
Tudo era maravilhoso no jardim do imperador. Estendia-se para longe, até à floresta de grandes árvores e lagos azuis que, por sua vez, descia até ao mar, de tal modo profundo que os grandes barcos ali passavam. Nos ramos das árvores habitava um rouxinol. Cantava tão bem que os pescadores, ao ouvi-lo, quase esqueciam o trabalho.
De toda a parte acorria gente a visitar a cidade, o palácio e os jardins do imperador. Achavam tudo maravilhoso, mas depois de ouvirem a extraordinária ave, diziam:
—O melhor de tudo é o rouxinol!
De regresso às suas terras, essa gente falava da cidade, do palácio e dos jardins. Os escritores e os poetas escreviam livros sobre tais maravilhas, dando sempre especial relevo ao rouxinol.
Estes livros correram mundo e alguns chegaram às mãos do imperador. Vestido de seda, sentado em belos cochins, lia com agrado o que se dizia dos seus domínios, mas, chegado ao fim, lá estava o remate:
— Entre tantas maravilhas, o rouxinol é a maior.
Um dia, o imperador mandou chamar o primeiro-ministro e disse-lhe:
— O que vem a ser isto? Como é possível existir, sem que eu o saiba, essa ave chamada rouxinol, que estes livros consideram o que há de melhor no meu império? Por que razão ainda não a vi?
— Nunca ouvi falar nela — respondeu o primeiro-ministro.
— Quero-a aqui esta noite, a cantar para mim. Só isto me faltava! O mundo inteiro sabe o que tenho, menos eu!
— Será cumprido o vosso desejo, real senhor — respondeu o primeiro-ministro, curvando-se. — Vou …
No palácio, ninguém conhecia o rouxinol. Por mais que perguntasse, nada conseguiu saber.
Voltou o primeiro-ministro ao imperador:
— Saiba Vossa Majestade que tal ave não existe. Deve ser invenção de quem escreveu esses livros!
— Não pode ser falso o que se diz nos livros enviados pelo meu amigo, o imperador do Japão. Portanto, quero aqui o pássaro esta noite, sob pena de toda a corte ser castigada!
De novo o primeiro-ministro subiu e desceu escadas, correu por aqui e por ali à procura de notícias do rouxinol, conhecido no mundo inteiro mas ignorado no palácio.
Por fim, encontraram na cozinha uma rapariga que exclamou:
— Oh, meu Deus! O rouxinol? Conheço-o muito bem! Quando, à noite, me dirijo para junto da costa, para levar a minha mãe os restos de comida que aqui me dão, oiço sempre essa maravilhosa ave, cujo doce cantar me traz lágrimas aos olhos.
— Pequena ajudante de cozinha — disse o primeiro-ministro — obterás o título de cozinheira, se me levares junto dele. Tenho de o trazer aqui esta noite!
Metade da corte (com medo do castigo, é claro) foi para a floresta à procura do rouxinol. No caminho ouviram uma vaca mugir. Certo cortesão, já radiante, exclamou:
— Ei-lo!
— Não, é uma vaca! — disse a rapariga. — Ainda estamos longe.
Daí a pouco ouviu-se o coaxar das rãs, nos pântanos.
— Encantador! — disse o capelão do palácio.
— Não, são as rãs a coaxar! — explicou a ajudante de cozinha. — Mas não tarda que o ouçamos.
Agora é ele! — disse a rapariga, daí a pouco. — Escutai, por favor!
De facto, o rouxinol cantava e todos viram um passarinho de cores discretas que, aos rogos da rapariga, cantou ainda melhor. E foi muito admirado.
Tendo consentido de boa vontade em mostrar a sua voz para deleite do imperador, foi recebido com grandes honras no palácio de porcelana, ao brilho de milhares de velas. Na grande sala onde o imperador se encontrava, colocaram um poleiro de ouro. Todos admiraram o seu canto mavioso.
O imperador tinha lágrimas nos olhos, de comovido, e foi esta a melhor recompensa para a ave. Nunca o esqueceria.
O êxito do rouxinol na corte foi extraordinário. E ficou decidido que o rouxinol ficaria na corte e teria uma gaiola só para ele. Tinha licença de dar um passeio duas vezes por dia e uma vez à noite, acompanhado de doze criados. Cada criado segurava uma fita de seda cuja ponta estava atada a uma das patas do passarinho. Passear nessas condições não devia ter mesmo graça nenhuma.
Certo dia chegou, endereçada ao imperador, urna grande caixa onde estava escrito: Rouxinol.
— Eis certamente outro livro sobre o célebre pássaro — disse o imperador.
Mas não era um livro. Dentro, vinha um rouxinol mecânico semelhante ao verdadeiro, coberto de diamantes, de rubis e de safiras. Quando lhe davam corda, cantava, movia a cauda e lançava chispas de luz. Trazia em volta do pescoço uma fita onde se lia: O rouxinol do imperador do Japão não passa de uma modesta imitação do rouxinol do imperador da China.
— Que lindo é! — exclamavam todos, entusiasmados, ao vê-lo e ouvi-lo.
— Ponham ambos a cantar ao mesmo tempo! — mandou o imperador.
Mas o pássaro verdadeiro cantava à sua maneira e o rouxinol mecânico cantava valsas.
Foi então resolvido que o rouxinol mecânico cantasse sozinho. Obteve grande sucesso, e repetiu, repetiu.
— Agora o rouxinol verdadeiro também tem de cantar — sugeriu o imperador.
Mas… onde estava ele? Ninguém se apercebeu de que voara pela grande janela aberta, em direcção à floresta.
Todos os cortesãos o censuraram:
— Que feia acção! Que ingrato! Não importa! Temos este que é bem melhor e mais bonito. Ao menos, com ele, sabemos o que vai seguir-se e podemos acompanhar a sua música. Com o outro era impossível, sempre diferente, inesperado.
O rouxinol cantava, cantava sem fadiga. Permitiu-se ao povo ver e ouvir aquela maravilha. Os pobres pescadores diziam:
— É lindo e canta bem, mas falta-lhe qualquer coisa …
Do verdadeiro rouxinol nunca mais houve notícias; já ninguém pensava nele.
Certa noite, estando o imperador deitado a deliciar-se com o canto do rouxinol mecânico, colocado em cima da mesa-de-cabeceira, ouviu-se um ruído “Tíup”! Partiu-se a corda do mecanismo; depois “Brrrr… ” e a música parou. O imperador saltou da cama, mandou vir o médico da corte, mas este não soube resolver a situação. Chamou-se então o relojoeiro, que consertou a corda e recomendou muita cautela, porque, com os parafusos gastos, podia quebrar- se novamente.
Foi grande o desgosto. O pássaro não podia agora cantar com frequência.
Cinco anos passaram.
Entre outros os cortesãos reinava a desolação, porque o seu amado imperador estava doente e não parecia ter hipóteses de cura. O sucessor fora já eleito.
Muitos choravam, enquanto outros ansiavam por aclamar aquele que viria.
O velho imperador, estendido na cama, pálido e frio, lutava com a morte. À sua volta, uma quantidade de caras estranhas parecia esperar espreitar por entre as dobras da cortina de veludo; umas tinham expressões de maldade, outras aparentavam simpatia. Representavam as boas e más acções que o imperador praticara. Este, no meio da aflição, só pedia:
— Música! Música! Quero música!
Mas ninguém dava corda ao pássaro mecânico, porque o imperador estava sozinho. Consideravam-no já morto, e os cortesãos preparavam o palácio para receber o sucessor.
— Canta, ave preciosa, canta! — pedia o imperador moribundo.
A ave continuava muda, e o imperador sentia-se morrer, esmagado pelo silêncio confrangedor.
De repente, eleva-se no ar, junto da janela aberta, uma voz deliciosa. Era o rouxinol que, num ramo lá fora, tinha ouvido os gritos de aflição do seu imperador e viera confortá-lo.
A medida que ele cantava, o imperador sentia-se mais leve, melhorava, voltavam-lhe as forças, regressava à vida.
— Obrigado! Obrigado, pássaro celestial! Reconheço a tua voz! Esqueci-te inteiramente, e tu vieste livrar-me da morte com as suas negras visões que me afligiam. Como poderei recompensar-te?
— Já fui recompensado, quando em tempos vi lágrimas nos teus olhos enquanto me escutavas — replicou delicadamente o rouxinol.
— Fica sempre junto de mim. Cantarás quando quiseres e quebrarei em mil bocados o pássaro mecânico!
— Não faças isso! — replicou o rouxinol verdadeiro. — Ele fez o que podia. Conser-va-o. Eu não posso instalar-me no palácio, mas virei, quando sentir desejos disso, e cantarei para ti, à noite, empoleirado neste ramo, junto da janela aberta, para te tornar feliz.
— Sim, farás como quiseres. O meu coração esperar-te-á sempre, para te receber com alegria e gratidão!
E quando os criados entraram, supondo encontrar o imperador já morto, viram-no, porém, sorrir e dizer calmamente:
— Bom dia!…

Hans Christian Handersen

Ler ao deitar

images (39)

Este foi um fim de semana particularmente agitado par as pequenas cá de casa. Quatro festas de aniversário é dose, sobretudo para a mãe que tem de comprar as prendas.

Para não variar, ofereceram livros, o que nos levou ao Continente, passe a publicidade, na sexta-feira ao fim da tarde, depois do Inglês. Demorámos algum tempo a escolher: dois livros da Poppy para as grandes que faziam oito anos, um da Poppy para a que fazia cinco, um do Vítor para o que fazia cinco. Do Vítor não, achou a pequena, que já deve estar cansada de oferecer sempre o mesmo, qual menir do Obélix, e preferiu desta vez um livro do Feiticeiro Horácio.

Isto demorou o seu tempo, como é bom de imaginar, e deu nas vistas de uma senhora (talvez avó ou tia-avó) que escolhia algo para oferecer a um rapaz prestes a fazer cinco anos. Aproximou-se de mim pedindo opinião sobre um daqueles albuns cheios de desenhos em que a criança tem de unir os pontos para completar a imagem. Disse-lhe que sim, que era giro, a capa informava que se dirigia à idade pretendida, mas não resisti. Eu nunca resisto. E perguntei se não preferia um daqueles livros que eu própria estava a escolher, mostrando-lhe que o preço era idêntico. “Mas ele faz cinco aos, acho que ainda não sabe ler.” Concordei e expliquei “Lê-lhe a mãe!” Que não, que não tem tempo, tem outra mais pequena, não tem tempo para isso. (Também eu tenho outra mais pequena e isso nunca foi desculpa para não ler às duas, a cada qual o seu…)

Passei o fim de semana a pensar nisto. É tão triste saber que há crianças cujos pais não se dão ao trabalho de lhes ler todos os dias, todas as noites antes de dormir. “Não se dão ao trabalho” é talvez muito forte, mas eu acho que é verdade. Nós fazemos, ou não, o tempo para as coisas que queremos mesmo fazer. Só na SIC, só depois do Jornal da Noite, passam três novelas. Três novelas, cerca de uma hora cada uma. E há quem tenha tempo, já para não dizer paciência, para as ver a todas. E há quem mande “recomeçar”, nos sistemas de televisão por cabo sofisticados que mais ou menos todos temos em casa hoje em dia. Os nossos filhos não são um canal de televisão por cabo fornecido por um operador sofisticado que permite recomeçar se não tivermos assistido ao programa desde o início. O tempo que temos para estar com eles é agora e é fugidio. Ou o aproveitamos ou já passou. E, no fim de contas, o que é mais importante: os nossos filhos ou seja o que for que escolhemos em vez de estarmos com eles? E não estou a falar apenas de programas de televisão, mas também de roupa para passar a ferro, de serão com os amigos no café da rua. Tanto pode ser dito deste hábito tão tipcamente português de passar o serão no café…

Sim, eu sei que a maior parte das pessoas não sabe que isto da leitura é tão importante. (E tão bom…) Tanto quanto posso, faço chegar a mensagem a toda a gente: pais conhecidos, os pais dos meus alunos, os pais dos alunos da escola da minha filha. Há dias, reuni com o pai de um aluno de quinto ano com sérias dificuldads de aprendizagem. E mandei-o ler ao filho. Disse-lhe que desligasse o telemóvel, ou que o deixasse na cozinha, que vestisse o pijama e se metesse na cama com o filho e que lhe lesse um livro. Sugeri um Geronimo Stilton e informei que poderia ser requisitado na biblioteca da escola. Eu não conhecia aquele senhor de parte nenhuma. Trabalha numa fábrica de pneus. O seu rosto não traiu qualquer emoção enquanto conversávamos, pelo que eu não sabia que tipo de sentimento as minhas palavras estavam a provocar. Até que, antes de sair, me perguntou:

A senhora já não vai ter aula com ele hoje?

Sim, vou estar com ele já de seguida.

Então diga-lhe que leve esse livro hoje para casa, sim?

Fiquei feliz, como podem imaginar. Isto foi na segunda-feira. Na terça-feira não fui à escola, mas passei o dia a pensar naqueles dois. Na quarta, não sei qual de nós dois estva mais ansioso: eu por saber ou o rapaz por me contar. Vinha feliz, com um sorriso rasgado e disse-me que tinha gostado muito. E o teu pai? Ele também gostou!

Já o disse, repito: escreve-se tanto sobre o bem que isto faz aos filhos. Mas isto de ler com eles, à noite, na cama, faz tão bem aos pais…

e então… lemos.

Chronicles-of-narnia-map

 

Este ano tenho um quinto ano de Português… muito barulhento. E ainda por cima, como sou directora de turma deles, raro é o da em que não tenho uma queixa. Portam-se mal, pronto. Falam muito. Fazem barulho.

Podem, portanto, imaginar o meu espanto ao verificar que nas minhas aulas, cada vez mais se… ouvem as moscas. Não se ouvem moscas, que não as há, mas ouvir-se-iam, se as houvesse.

Hoje, por exemplo. Entrámos às oito e meia e, nada mais sentarem-se, comecei a ler.

Estamos a ler As Crónicas de Nárnia, comecei, naturalmente, pelo primeiro volume, O Sobrinho do Mágico, e a reacção deles está a ser… um sonho.

Não pare, professora!

Continue, por favor!

Só a primeira página do capítulo…

Só mais um bocadinho…

Não temos um livro para cada aluno, nem sequer um livro em cada mesa, que a biblioteca da escola não chega a tanto. Eu leio, eles ouvem. E ouvem deliciados.

Este livro é riquíssimo. Não apenas pelo trabalho de estímlo à imaginação, mas também pela linguagem. Isto é Literatura, assim, com letra maiúscula, no mais puro sentido do termo. Não é de admirar que faça as delícias de sucessivas gerações e que conheça várias adaptações ao cinema.

Depois da leitura – e porque não convém esquecer que estamos em aula de Português e a (nossa) vida (infelizmente) não é só Nárnia, estivemos a conversar sobre verbos introdutores do diálogo. E, também neste aspecto, este livro é de uma riqueza extraordinária.

Respondeu, retorquiu, disse, perguntou, segredou, replicou, repetiu, prosseguiu, interrompeu, comentou, exclamou, confirmou, gritou, reclamou, concordou, adiantou, sugeriu, contrapôs, murmurou, tratamudeou, declarou, insistiu, explicou, acusou, bradou…

E todos estes só hoje, em dois capítulos.

(Permitam-me este comentário e por favor não me crucifiquem: em A Floresta, de Sophia de Mello Breyner, por exemplo, isto é bem diferente. No primeiro diálogo entre Isabel e o anão, quando se conhecem, o único verbo utilizado é o verbo dizer. E nós que passamos a vida a dizer aos alunos que têm de variar, que não podem usar sempre disse, disse, disse… Sim, eu sei que há uma (UMA) excepção neste diálogo a que me refiro.)

O que eu quero dizer é apenas isto: pensem no Daniel Penac. Pensem em Donalyn Miller. Pensem em Jim Trelease. Leiam. Invistam tempo das vossas aulas na leitura. Ensinem o gosto pela leitura através da leitura e não com teorias estéreis.

Ou deveria dizer, talvez: descubri vós, professores, o prazer da leitura, o prazer supremo de ler uma história, de rir e chorar com as personagens. De descobrir mundos novos.

Repito o que já disse muitas vezes: se os meus alunos (que não são meus amigos aqui no Facebook, mas que seguem, alguns deles, aquilo que torno público, como por exemplo esta Nota) saírem das minhas mãos com o bichinho da leitura, eu terei alcançado o meu objectivo mais querido, aquele que me faz sair da cama todos os dias de manhã.

E, apenas para terminar: eu não coloco aqui fotografias de crianças. Nem das minhas filhas, nem dos meus alunos. Mas a sério que hei-de fotografar a minha Elisa, a minha Telma e os outros todos. A imagem dos vossos olhos, muito abertos, que não pestanejam enquanto leio, é uma imagem que guardarei para sempre.

Na primeira pessoa 2

Neste pequeno segmento, podemos testemunhar a reacção dos pais. Como esta actividade, tão simples, foi acolhida em casa.

Apenas uma nota para informar que estes segmentos foram “cortados” por mim. Por isso não estão lá muito bem… As minhas desculpas.

Na primeira pessoa

Hoje apetece-me. Ando há muito para fazer isto, e hoje é dia.

Este é o primeiro de uma série de pequenos segmentos da Grande Reportagem SIC que foi para o ar em Janeiro de 2012. Falava sobre o projecto de leitura que implementei com muito sucesso junto dos meus alunos do 2º ciclo – e que continuo a implementar, tendo alargado o público-alvo.

Neste primeiro vídeo, sob o olhar atento de um relógio que pára, cada aluno lê uma primeira frase de um conto diferente, dando uma ideia da variedade de temas sobre os quais lemos.

Da lógica. Do AO e do CE

Acabo de descobrir mais uma fantástica do fantástico Acordo Ortográfico.
Então não é que se escreve reeleger, mas re-eleito, que é uma palavra derivada da anterior?!
Percebem a lógica? Tem toda a lógica! A lógica da batata. Só pode.
Começo a achar que tentar perceber o AO é como tentar perceber o Código da Estrada. Já repararam que, quando vamos a exame de código, ele pode correr bem ou pode correr mal. E passa-se mais ou menos assim: ou sabemos a resposta de cor e assinalamos a resposta certa e pronto, ou temos dúvidas. Se temos dúvidas, sentimo-nos tentados a pensar, a utilizar a lógica. E estragamos tudo. Porque o CE escapa, frequentemente, a qualquer tipo de raciocínio lógico. O AO não escapa frequentemente a qualquer tipo de raciocínio lógico: escapa sempre.

Nota: Foi neste vídeo que vi esta informação: http://www.youtube.com/watch?v=ymKPmVHLcxg&feature=youtu.be

Advertiram-me que isto não pode ser confirmado nem no ILTEC nem em nenhum dos dicionários que já usam o AO. No entanto, nenhuma dessas ferramentas é fidedigna, em virtude de não seguirem o vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa… porque ainda não está feito, embora seja uma das condições essenciais, previstas pelo AO90 para a sua aplicação. Fica, no entanto, o esclarecimento.